18.9.08

Poucos homens, geralmente os errados, experienciam o limite. Os certos estão certos de muita coisa e param antes. Uma experiência-limite é a resposta que encontra o homem quando decidiu se pôr radicalmente em questão. Essa decisão exprime o não deter-se em consolações, verdadezinhas e nem resultados de ação- um tiro(!)- Uma paixão do pensamento, e sentimento negativo, propaga Blanchot...
Essa negatividade não tem nada de cético; é o contentamento pelo descontentamento constante, o fiozinho que conduz até o fim suas negações. Acontece que a negatividade não se esgota em ações: mais extremo que chegar ao absoluto é a paixão negativa, que ainda introduz a questão que lhe suspende, diante da reaização do todo, capaz de manter a contestação que dá novo impulso ao infinito. Eis o abrir-mas-não-fechar do quase enigma rosiano: perguntando, o que se tem são maiores perguntas...Eis Antonio das Mortes, que nega fogo ao coronel e ao delegado porque já sabe quem são os inimigos; o limite da certeza de aceitar não saber, contraposto ao simples procurar e saber nunca de fato achar....
A experiência-limite é a do homem capaz de nunca se deter em uma suficiência: o desejo dos sem desejo, a falta onde consuma-se o ser, a vida no Das Mortes... Experimentar o fio que vai poindo limites é sentir tudo que está fora, quando o tudo excluiu todo exterior daquilo que falta alcançar. Quando tudo está alcançado( uma terrinha pra morrer em paz) é o que falta conhecer. Quando tudo é conhecido, tem se diante o próprio inacessível, des-conhecido.
Das Mortes talvez seja a parte humana pertencente a uma falta essencial de onde lhe vem o direito de colocar-se a si mesmo sempre em questão; já sei quem são meus inimigos...mas isso não basta. O saber é abertura, não claustro: não fecha.
Nesse interior, onde se experimenta dias incontados, a grande capacidade de morrer do homem, aquela que Darcy aponta como arma do indígena insatisfeito, faz do homem produtor no mundo: sobra-lhe uma parte de morrer que não pode investir na atividade, mas se chega a pressentir esse excesso de nada, vazio inútil, então a resposta é para outra exigência: não mais produzir( mortes??), e sim desprender, fracassar, falar em vão, o ócio do porre ao meio-dia...
Antonio das Mortes é vida em questão: um não que sabe-se não, condenado a buscar pelos sims um jeito de dizer não: todas as estradas, todos os ônibus, caronas, armazens e porres dão em algum lugar; qual dá em nenhum?

Nenhum comentário: