9.2.09

Leito-Canoa

Há dez anos estive aqui acompanhando a dor alheia: foi vovó na cama e eu na guarda. Guardando sono, consolo, agulha e fagulha de lágrima escondida. O pedido por um homem digno veio em infância: Não verei, mas você será.
Fé e carinho em potência.

Potência-ainda-lá-atrás, não sabia que o leito de vovó seria- anos desaguados- a canoinha que me procuraria. Canoa-Canoa; sempre perto em lembrança; porém longe de margens tocáveis. - Vovó mesmo me deixou? Chorei ausência de anos na noite passada. Mas o leito a canoa trouxe. Minha vez?!

Sim. O leito me acolhe-recolhe, prum onde-num-sei. O que sei intuindo em brancuras abertas, é que o leito, feito de canoa, trouxe resposta nenhuma e sim o rio perguntando:
Antes da morte, até que a morte o separe, entre a morte, como será sua vida?

Hospital Santa Martha, 23/01/09