27.12.08

Pó de tempo!
Pode o tempo contar cores?
Arco-íris são farelos de menino inteiro.

23.12.08

A estratégia do sonho

Dormindo, acordei com meus sonhos:
Acordado, estarei em sonho.

21.12.08

Ian ( m)


Transmissão:
Ouça o silêncio dos meus dezesseis anos
pulsando continuo, extendendo
minhas mãos, continuação
do coração que aperta
qualquer mão.

Se o amor nos destrói,
novos olhos constróem.
Olho com amor e sem saudade
o Curtis fúnebre;
Da corda tombado ao sub-chão,
pois ele me-sou.

Ian Curtis, brasileiro, 16 anos: I am.

20.12.08

Elegia a Ulpiano


O Espinoza que me é tem raiz, tronco forte e frutos.
homens em curso deságuam rios.

18.12.08

O tempo não é esse de fora, mas sim aquele que transpassa o homem em sentidos. Cientistas cronometram beijos, abraços de amigos, conversas bonitas e livros que invertem a rotação e a translação: humanos não.
Tempo talvez seja o cairós, que joga conosco, joga bonito sem suar e sem perguntar quanto falta pra acabar; a aula, o filme, o sorriso, o jogo, a vida...Um tempo Histórico fundado na alegria, naquilo que nos leva, limitados, ao ilimitado. A História como Questão, poética, trazendo o tempo para nossas experiências. Tempo presente, mas não aquele que nos faz e sim o tempo que nós fazemos.
É com pontos internos que costurar se faz para fora...

15.12.08

Se a arte também cria o social e é linguagem, porque não criar o homem? Se apenas o social criasse arte, teriamos sonhos ditados em cartilhas de caligrafia para aprumar o jeito. Mas se o humano que nos é pode ser abertura, cor branca que forma formas, pela arte, linguagem não do homem, mas do humano, cria-se também um povo. Sim: é preciso também crer. Que as palavras tenham força, afinal, ou melhor, inicialmente, quanto mais bonita e possível de coisas é nossa linguagem, mais podemos explodir arco-íris mil de atitudes. Pensamos com palavra, pensamos formando linguagem. Quanto mais ampla a linguagem, mais possíveis pensamentos e atitudes.
A homem que cria a arte, é criado-e-feito humano.
Elegia a François Trouffaut e Antoine Donel


Trouffaut e Antoine:
Agora somos três.

13.12.08

Com o corpo sem lugar
atei-me ao vento.
Sem ato, invento
corpo num lugar,
convento.
Confrades na simplicidade
de abrir portas em olhos.
Sem o corpo, invento:
Meu lugar é vento.

9.12.08

Nascimento

Era uma vez, sem vez nenhuma...
Um mito, em seu nascimento.
Fez um "L" dobrando esquina-de-pó-chã.
Entrou, deságuou, tirou sulco da terra
cavando pra dentro em " N",
Depois sentou na curva,
violão acontecendo e o rosto de quem não tivesse aprontado nada.
Pronto: Milton.

4.12.08

O menino que via frutos cadentes:

I-De noite, são música as estrelinhas que brilham no céu do meu quarto.
Entrelinhas, a mudez do fruto range verde na mesa.

II-Estrelinha, na entrelinha de si apostrofou-se:deitada sobre a mesa,brilhou amarela em reflexo dental o caldo de abacaxi, a estrela da terra.Estrelas tem semente, abacaxis, usam luneta....




III-De magia, dança e criança o poeta entende; ou melhor: confunde.
Criança girando ciranda ensina adulto a ser adultinho, na gangorra entre passado e futuro.
Criança não conhece o saber, daí amansa estrelas rangentes no colo e colhe os frutos do espaço: na dança...
Por uma História Utópica


O único sentido possível para a História é in-verso. Cientistas saem do presente rumo ao passado e não voltam. Queremos partir do passado e rumar ao futuro. Feitio de rio que com a violência de seu curso arrasta pau e mato e arredonda pedregulho de duras pontas. Importa é compor com as forças movidas pulsantes pelo histórico, forças que já não tem data e por isso preenchem o pulso e soltam a voz, viva, presente. Histórico não é o fato, feito, mas sim o acontecimento, que hoje ainda é, porque mais do que coisa dita e feita é possibilidade. Importa é arrastar o sentido pro agora: por ainda ser sentido. Não idéia, nem razão. Somos do interior do mato; caatinga e roçado. O eu que nos é tem fé cega e faca amolada. Razão não contém nem ciência está contida: somos Brasil, a luz do possível que se sonha apagada: pés no chão e cabeças em sonho.
Sonho não esbarra em tempo.
Ciência não sopra cata-vento.
O único sentido possível para a História é o inverso. Sair do possível...com o impossível. Tomar as rédeas da razão pelo sensível, pois é este o sentido, a sentir-se de um povo:
Apostamos tudo na utopia.
O Glauber que me é:

.Quando o samba, a macumba e bola forem o plano, o planalto, em vez de alto, será tumba.

Somos é a civilização da bola: o devir do gol por vir que não se sabe se vem, mas é esperado e gritado com catarses ritmicas que parecem palavras: dias chutados pra frente!

2.12.08

XII-

O som, vindo viajado, lido e feito interior,
não é regional.
Interior, de terra, é solo firme pra
coração pulsar
e pra ciência dura das coisas simples
esbarrar.
O som, de dentro, é o dentro
que abre o fora.
Pouca razão e nenhuma quase ciência.
O afeto do pé-no-chão.
Amigo, musicando um abraço-irmão.
O som de dentro me compõe em sinfonia:
Samba em prelúdio, futuro em nostalgia.
Longe da harmonia dos infernos,
descivilizaremos....
XII-

1.12.08

Estrelinha, na entrelinha de si apostrofou-se:
deitada sobre a mesa,
brilhou amarela em reflexo dental o caldo de abacaxi, a estrela da terra.
Estrelas tem semente, abacaxis, usam luneta....

29.11.08

Ilustração de Paulo Jobim para encarte de Matita Perê, disco de Tom Jobim, 1973.

I-
Madrugada fria azul de medo,
no teatro de barro a terra abria redondo abismo torto, cratera de sonho e de som: palavras cantadas com raíz. Com o norte para o sul foi-se o som ser ouvido; meus ouvidos! O recado abismal geopotência poética rasgou chão e pedra fez tempo cheio e disse ao João que fosse fábula des-sendo João, e que o chamado desdito João, tigre na sela voando rugindo pego por razão nenhuma, também dissesse ao vulgo Leonão que ele também não é ele. E a palavra se refaz, toda vez que alguém-algum lê chão e escreve com flor uma estória de vida inteira.
II- Terra transpassa concreto? Da terra, o sumo, o som.....

III- Concretas sílabas, sintonia, sinfonia, foram feitas passos.

IV- Concretos passos, pisada e pegada dissonante, sustenidos por braço e giz.

V- O som, amanhecido, tem cor laranja e vistas de algodão doce.

VI- De noite, são música as estrelinhas que brilham no céu do meu quarto.

VII- Entrelinhas, a mudez do fruto range verde na mesa.

VIII- Janelas abrem olhos.

XIX- Portas, estradas.

X- Por toda parte na cidade, som, sonho e caminho embrenhando mato no semáforo: sinal verde?

XI- Parte por todo na cidade, som quer homem juntado sinfonia. Epifania. Som procura ouvido que se esqueçe em poesia.

27.11.08

O tempo de lágrimas já foi.
Agora: só rio.....
Riozinho claro e fundo
onde amigos-veredas
são o curso e os peixes.
Hoje só-rio.

24.11.08

Na esquina do clube:
Um gosto de vidro e corte
Poeira na noite
festa negro amor mas é tarde
para o girassol do seu cabelo
pegar o trem azul.

Em toda esquina se vai mais um dia
Em toda curva vão-se certezas retas
Mas a curva dobra para dentro
e não para fora de tudo que você
queria ser.

Na paisagem da janela, um gosto de sol
mas você não quis acreditar
que no trem azul de doido
nada será como antes amanhã.

Estrelas, me deixem em paz:
Tengo dos cruces e um cais;
Saídas e bandeiras hasteadas
ao que vai nascer.

19.11.08

Tratado sobre meninos e pássaros que cantam:

( Na escola)

I- Fica estabelecido por um susto de quem vem por trás do colega
que cada canto merece seu canto.

II- Assim-sendo, é expressamente permitido que meninos assobiem alumbrações
em salas de aula em aula ( quem aprende é tão quieto quanto os quadros-negros são verdes).

III- Passarinhos voam meninos driblando bola perna e vento no recreio.

IV- Inspetoras também podem canto: apitos ventam som de ferro...

V- Provas provam vida?

VI- Relógios e sirenes são cucos empalhados.

VII- Diretoras também.

VII- Um bem-te-vi tentou suicídio: atirou-se frente a um estilingue caído, mas num tinha pedra nem atirador. Era conselho-de-classe.

VIII- Sem crianças, morreu o passarim de des-gosto e des-canto.

IX- A secretária não carimbou o tratado. E quem disse que gaiola amarra som?
Da tumba aos trilhos( cem Rosas espalhadas pelos anos)

Minas tem ouro por dentro. Terra que pode rebrotar: concertar morte em tempos sem tempo. Tumbas também são minas, mas não guardam e sim despejam encantamentos ruas e palavras feitas fluxo à fora. Vida é cavalo em rédea curta, tigre na verdade em baixo de cela: Minas é o pretexto...E a vida também: porque o que vem depois está já em si no antesmente.

17.11.08

Bandeira do Brazil ( para Luciano)

O chamado Bandeira: Maldito Bandeira!
Tremulante e hasteado,
boteco fervilhando chopp gelado:
esperando a estrela da manhã...
Catando solzinhos na beira-mar
achei beirada de um coração.
Coração beijado pelas beiradas,
refez-se o pulso vivo antes estático:
Alvorada em ondas,
fim de tarde visto refletido em olhos
colhidos em favos.
Mar e mel.

11.11.08

-You say stop, i say go. Jules et Jim talvez esteja meio ilegível não por culpa do filme, mas das coisas como andam. Deu saudade de uma não conhecida ingenuidade, onde amigos amam-se irmãos e uma mulher pretensa-amada acaba sendo uma estrada para que a confiança e o amor entre irmãos sejam percorridos. Deu saudade das possíveis lágrimas ao ver o filme e identificar-se, sendo aquela relação algo simples e ordináriamente comum entre pessoas. O ilegível hoje é isso não mais comum, sendo a excessão, o extra ordinário. Saudade da pedra e do estilingue, da travessura, da palavra não sabida e da menina assim dividida. Mais importante que a menina era o amigo. A sorte é que a troca hoje fácil-feita seja apenas a de quem amigo mesmo não é. Jules e Jim podem ainda agora então chorar: amigos sempre são!

10.11.08

-No bojo elástico do ar alto, lá onde nem se conta, estrelas de má fortuna e também as cadentes são sem memória. Caído assim meio místico, o primo aspira os ares da volta. Não ao quando, mas talvez ao onde. Isso porque cada segundo é antecedido a um primeiro. E se o primeiro é o antes-cedido que sucedeu a um outro, voltemos. Ao primeiro antes de tudo, logo ali depois de nada. Lá onde nem se conta: é de onde conto.

Meço a casinha que sei-conheço e conclusão só posso tracejar de que tem o tamanho da minha cabeça. Primo pelo esboço que des-diz vento apontando lugares musicais: um balanço meio feito vermelho, pois é a cor que forma formas já-não-ainda-mais concretas; as ondas de terra des-regular regulando o quique no matinho da dente de leite e o nosso depois banho de mangueira. Nosso deleite. Pro pique-se- esconde que custo encontrar, lugar não há de faltar: meninas enganam meninos que as acham muito ingênuas. E não já é isso uma certa e errônea maldade?! A pureza de não saber-se...Vento desdito é ar que não anda porque se estica. No bojo elástico do ar alto...onde estrelas tocam o teto de minha cama.

Lá mesmo é onde primos esticam-se irmãos. A primazia de brincar de novela no quarto: faz de conta imaginado televisivo, ligado em cabecinhas em comum, todo o depois da semana era sempre aquele um domingo. O quando querendo-se onde. Quarto de cinco lados?

Certa vez sua de acontecer, o casal priminho, dupla dos de aqui nossos de casa, surge com outro alheio aos nossos quatro; dois de lá e dois de cá. Como então um quinto se nosso quearto só se fazia mais um com nossa conta exata? O primo dos primos vinha primando pelo espírito do estômago: Olhos procurando o que pedir dão-lhe a cara chata de quarta-feira. " - Somos domingo pé-de-cachimbo"! E barriga ronca grande é em horas de impedimento. Não nas ditas feitas... Mas o primo dos primos, olhôso, quis ser bala de côco, quitute sagrado da vovó nossaminha mas não dele. Levando o domingo para a cozinha, deixa-nos no quarto sendo todos quatro segundas-feiras: um mês esperando que o primo dos primos não olhasse com os olhos...E o quarto sendo só quarto...

No momento de sua despedida, o entrusão ainda pedindo, olhos-de-mão-erguida, foi-se bolsos cheios pra fora, pra onde adulto não se sabe. Os primos também foram, mas eles só iam para voltar: ar alto, aralto da infância tem elástico em brincadeiras:pular elástico e segundas-feiras. E quando fora-se o ido e sabia-se os voltantes, os primos ficados, mesmo já dormindo, sonhavam sentindo: Já é ainda domingo.

6.11.08

Pomba de Irochima


No céu cinzento
nuvem feia do porvir
cumpriu ordem
obediência quase-meia:
Deitou uma bomba,
Soltou uma pomba.
O sapo letrado
pula coachado
exibindo seu idioma:
No brejo ninguém outro tem diploma.
Meus olhos fabricam colibris: formando forma em idéia vista ao verde.
Ou será: colibris fabricam meus olhos?
Idéia fabrica colibri?
Não. Mas não é um sim...
Colibris voam olhares.

5.11.08

Casa-Negra


Que todos os dias são históricos, o tempo sabe e faz. Mas horas como as de hoje alongam-se em espirais que nem mais se sabe...Barack Obama; primeiro presidente negro norte-americano. No Brasil falar disso talvez seja preconceito, afinal os preconceitos de cá são mais de classe e menos étnicos. Mas como os pobres em seu quase todo formam forma de muitos escravos...Ex-cravos ainda cravados em problemas, alijados de suas questões. Mas o assunto hoje é: Obama.

Em começos dos anos 2000 a odisséia de candangos cobrando de volta o que é seu de fato: Brasília. No calor, no calo, pisado, suado, o choro-chorado da gente estava lá: pés descalços afoitos foiçando dias no alívio dos impróprios pés-no-lago. Pés da gente! Rockfeller mal podia arregalar-se, tinhamos agora-ontem um presidente nordestino, mecãnico, aleijado de ciências e possível ciente de si: era por nós. Mas não era deles, sobre eles, meu pretenso falar? Contando, explico.

No domingo da final-primeira vitória de Lula, estive-estou eu na praia: as bandeiras enrolando lágrimas e as lágrimas hasteando cores: sangue e areia. Nunca antes aconteceu em minhas retinas o povo comemorando algo nem sequer futebol; uma desvivencia onde vida transbordava. O tempo das mudanças não desalcança o tempo. O tempo não é talhado, mas sim tempo um esse sendo outro. Tempo re-evoluindo. Suprimido para junto comemorado: tempo de prazeres. Lembro-sei que sentia o que agora sinto.O povo num sentido, tendo sentido algo não tão racional. O sentido é fluxo de esperança, o esperar fazendo para mais esperar e ir fazendo mais. O mesmo sentido que ali alcançava o povo brasileiro alcançaram os hermanos, bolivianos. Eva e Evo, paraíso possível sem a culpa de Adão. O Éden tardio passou de caravela por aqui, mas se foi...

E o que foi que teve a ver isso com Obama? Já contei, mas ainda não expliquei.
Multidões não de Rockfellers ou de mini-Bush's, mas de Jimmy Hendrix's, nunca de Ronalds, mas de Bob Dylans, as Janis Joplins todas e também os Kerouacs e Londons, todos os Jack's, sabem-sentem agora, no agorinha o mesmo sentido antes aquele de cá. Que o sintam também os de Cuba que já foi até paraíso, que sintam ali-e-alá os do Oriente,Médio, esquerdo, inteiro. Que as havenças desajam as descorduras e a vida seja belo e límpido concerto. Que se Concerte. Afinal, a esperança só é a última que morre por ser-se uma primeira a nascer...

12.10.08

Quando a gente fala " Elis", sabe as palavras, sentindo. Sapere é também sabor. De pimenta? Sábias palavras formam e des-formam a Elis: Que pareçe, dito, falando assim no falado, " Eles". Pimenta-mais-de-uma? A arte, feita Questão, levando o homem a ter como limite os ilimitados recônditos do som nos diz que ela é...Eles! Se eu quiser falar com Deus tenho que aprender a ficar a sós...não comigo, mas conosco. Dizer adeus ao EU, dar as costas, caminhar. Elis é mais que Eles; Somos nós, fio de som que nos faz finalmente sermos humanos: Epifania de um dia inteiro aberto, disco na vitrola com mil lados que não para de tocar, porque Elis é muitos. Nós.Nós desatados pela dose curta de razão, seguem as vozes no trem azul, sol na cabeça, pleno vento de Maio concentrado...em quadro. Som não é tempo. nem tempo é sorriso. Tempo é o não-tempo da alegria, do prazer da gargalhada solta. Potência da voz enquadrada muda e oferecida sorriso. Dela? Nosso: Dentro dos nossos olhos en-quadrado um sorriso.

20.9.08

Talvez uma das maiores contribuições de Glauber seja sua coragem ao lidar com a História. O professor, ainda não santo guerreiro, ensinava aos alunos na praça coisas externas a si: datas importantes e adventícias. Mesmo sem ler Agamben, o que nada lhe impede, Glauber tem o desprendimento de pôr a História em diálogo com a vida, pulso latente e não coleção de curiosidades...Tanto fala-se em interdisciplinaridade e a dona História, senhora de si, metodologia ambulante, aceita o dialogo contanto que a outra parte seja...instrumento. Glauber, antecipando Agamben, profana, coloca em praça pública aquilo que a História tem de mais rico: a relação entre os homens e o tempo.
Destemporalizada, realidade transcendente e imanente ao mesmo tempo, a História é colocada como espécie de estância, zona de inapreensibilidade que salvaguarda possibilidades de mudanças sociais impossíveis. Nessa História tudo pode.Neg'antão é rei. Nessa História a poética é como a praça: do céu como o condor. A força das idéias assume o condão de espada de São Jorge e varre maldades e latifúndios.
Nessa História o povo é o mito-nosso-de-cada-dia.

18.9.08

Poucos homens, geralmente os errados, experienciam o limite. Os certos estão certos de muita coisa e param antes. Uma experiência-limite é a resposta que encontra o homem quando decidiu se pôr radicalmente em questão. Essa decisão exprime o não deter-se em consolações, verdadezinhas e nem resultados de ação- um tiro(!)- Uma paixão do pensamento, e sentimento negativo, propaga Blanchot...
Essa negatividade não tem nada de cético; é o contentamento pelo descontentamento constante, o fiozinho que conduz até o fim suas negações. Acontece que a negatividade não se esgota em ações: mais extremo que chegar ao absoluto é a paixão negativa, que ainda introduz a questão que lhe suspende, diante da reaização do todo, capaz de manter a contestação que dá novo impulso ao infinito. Eis o abrir-mas-não-fechar do quase enigma rosiano: perguntando, o que se tem são maiores perguntas...Eis Antonio das Mortes, que nega fogo ao coronel e ao delegado porque já sabe quem são os inimigos; o limite da certeza de aceitar não saber, contraposto ao simples procurar e saber nunca de fato achar....
A experiência-limite é a do homem capaz de nunca se deter em uma suficiência: o desejo dos sem desejo, a falta onde consuma-se o ser, a vida no Das Mortes... Experimentar o fio que vai poindo limites é sentir tudo que está fora, quando o tudo excluiu todo exterior daquilo que falta alcançar. Quando tudo está alcançado( uma terrinha pra morrer em paz) é o que falta conhecer. Quando tudo é conhecido, tem se diante o próprio inacessível, des-conhecido.
Das Mortes talvez seja a parte humana pertencente a uma falta essencial de onde lhe vem o direito de colocar-se a si mesmo sempre em questão; já sei quem são meus inimigos...mas isso não basta. O saber é abertura, não claustro: não fecha.
Nesse interior, onde se experimenta dias incontados, a grande capacidade de morrer do homem, aquela que Darcy aponta como arma do indígena insatisfeito, faz do homem produtor no mundo: sobra-lhe uma parte de morrer que não pode investir na atividade, mas se chega a pressentir esse excesso de nada, vazio inútil, então a resposta é para outra exigência: não mais produzir( mortes??), e sim desprender, fracassar, falar em vão, o ócio do porre ao meio-dia...
Antonio das Mortes é vida em questão: um não que sabe-se não, condenado a buscar pelos sims um jeito de dizer não: todas as estradas, todos os ônibus, caronas, armazens e porres dão em algum lugar; qual dá em nenhum?
As vidas de Antônio e as mortes de Glauber

Ali onde eu chorei qualquer um chorava....O choque brutal de ver dois homens, sertanejos, esconjurados das profundezas da desvida e da desmorte, consubstanciados desolados estrangeiros diante de carros, onibus, estradas que abrem um abismo na presença errante da cada um. Para muitos, isto dá uma idéia das coisas. Idéia que se faz com razão-e-visão: críticas de arte, criticos de arte tentam contextualizar o mito. O mito para eles é Glauber, ao qual devem digníssimas reverências. Para Glauber, é possível que o mito fosse os confins da história sem-tempo em que nos enfiamos gingas e lágrimas adentro. a História não transforma-se em mito. Não porque as amarras externas do " quando descobriram o Brasil". Mas o mito, presencial naquele que não espera do tempo a falta constante de tempo, este é que pode ser História, povo, sangue e tempo. Tempo colado na retina que só é e não brinca de estéticas, analogias e nem alegorias: Ao mesmo tempo em que mata o cangaçeiro, Antonio das Mortes sabe-se igual em des-graças. Pelas mortes feitas, é que trata com Deus. Contra-dição? E o que diz a santa que pela boca de Antonio aceita estar próxima? É no pecado a chance de se salvar...É no Brasil a chance de Negantão deixar de ser lombo, para erguer-se príncipe Zulu. É no Brasil o professor-em-transe que tem força nas idéias e neblina nos punhos, sabido que Lampião vale mais que todo Império. É no Brasil que o homem errôneo percebe que sempre esteve do outro lado e aceita a condenação de não ter a vida que todos tem, esta de onde falo.
Também é no Brasil que gênios não são desvalorizados por simples questão de gosto, opção. Ao contrário: não dizem aos filhos de Narciso aquilo que lhes sequestra o paladar. Nossos mitos estão nas ruas, entre caminhões, avenidas e com a proteção de todos os santos. Mas os mitos deles, o mito feito Gláuber, o mito feito Rosa, estes são saudosos do desvalor: ininteligíveis!
Antônio das Mortes e professor ainda buscam nas ruas o que procurar. Estejamos com eles.

10.9.08

Caminhando tranquilo pela noite melancólica que calava o turbilhão já mudo da rua feita de comércios, apresentou-se aquela cena irreparável. Eu, que optei por voltar para casa a pé para com o troco da passagem fazer um lanche,des- lanchei.

Eis que vi um rapaz agachado, mexendo num saco de lixo e, naturalmente, fazendo dele sua talvez única refeição do dia. A primeira porção fez-me incrédulo. A segunda trouxe espanto, raiva e ojeriza. A terceira vez, mãos levadas à boca, levaram -me a não ser mais eu. Senti meu lache ser a janta dele. Se somos biológicamente idênticos, por que o absurdo? Por que eu não mais conseguia comer tranquilo meu lanche e o jovem, naturalmente remexia o lixo, levando tragédias achadas à boca?

Enquanto uns comem para viver, outros o fazem para não morrer...Como aceitar essa fratura em nosso mundo? Como concordar indiferente que a terra, mãe, viva, deusa de muitos, ofereça suas dádivas em fartura e isso se torne fratura? Ali, naquele instante de terror para mim e de absurda normalidade para o rapaz, não havia a desculpa de num dar dinheiro pela justificativa da possível cachaça. também não havia o não dividir proque vicia a pedir...O que havia era apenas o abismo irreconciliável entre eu e ele. Ou melhor, o abismo em que, de formas diferentes, sim, eu e ele estavamos e estamos ainda enfiados: Ou posso ser digno de sono e sonhos quando não tenho casa e estou animalizado? Agora sou ele. O rapaz. Nós irmanados em des-graça. Mas será que um dia ele será eu?

8.9.08

" Concerto em sol que não se põe"

Estudo a cada dia o sonho que de noite parece possível ser vivido na manhã seguinte. O poeta dorme-trabalhando, diriam os objetivos. Mas eu sou nós: A Universidade de dentro pra fora plange experiências. No germe cinza brotam novidades. A Ciência determina corações modelados. Ter ciência é bastante? Basta! É o que dirá Antônio naquilo que avermelha o tempo, despontuando o dia de hoje. Lembro bem de tudo agora de noite. Por isso sei: será de tardinha...

" Mar passivo que beira o precipício:
Terra quase a desabar.
Se cairmos morreremos?
Aquele que perder-se será o único a se salvar.
Guardo a fala e deixo o chão da Minha angústia cuidar"...

A questão não é o que seremos, mas quem. No cruz-e-espada de enfrentar a civilidade e garantias de estabilidade, a harmonia dos infernos tem a descoloração do Norte: claros, óbvios, imponentes como enviados dos deuses, pórém sujos; cheirando ao que não é, impondo o que não se pode pôr; O sonho de Colombo, roubado e o castigo do Paraízo-vazio: Todos saíram? Todos chegaram...

"No palácio de cristal compro o que vejo
mas não uso o que tenho.
Tenho o que não posso".

Nas ilhas de Fideu sentiu-se o Éden: revolução que não é pela força do outro, mas sim com a violência radical de lançar-se sonho-a-dentro; Não somos irracionais e sim sensíveis ao que o conhecimento não conheçe e por isso não limita. A Ciência disseca o divinar de um pássaro? Mede a envergadura de seu vôo? Científico é o incrédulo que mede sonhos para ter certeza de estar acordado. Acordemos; é isto que queremos?

Antônio: - Gritos loucos e estéreis pedem fora ao Tio SAm, mas esquecemos que a ascese começa por nós. Incorporamos negativamente o outro...sendo incorporados. Que a minha palavra não seja vã...

João: - A guerra faz-se tão clara que se esconde. Não há uniforme nem lado escolhido. Só o metal cuspido...e com classe? A arma : o meio com que o espírito é diluído. Nossa guerra...está na alma!! Como não comprar projetos? Como fazer-se na Epifania sem pecado onde poesia é um estado alegre e não o mal do século que já dura séculos?

O fazer-se, pôr no mundo, projeto de humano. Somos quando pedimos mais à terra do que tem o corpo a oferecer. Somos quando o corpo pulsa raíz e germina frutos. Ser humano é atravessar um tempo que sempre deixa de ser e deixar de ser tempo..
.
Antônio: O que eu queria...o que eu quero... é que essa França Antártica de concreto não se acredite libertando da ignorância Atlântica o herege que não experimenta vida em tubo de ensaio. Se somos Caribe, também podemos sim ser canibe: devorar trevas e medos, regorgitando nos olhos o suporte para os anos a se extinguir; Estamos aqui e resistimos ao calor gelado da terra que poderia ter sido ainda agora de Araribóias...

João:
" Mar passivo que beira o precipício
reflita em seu espelho a imagem
dos que ainda são
Esconda no teu silêncio
A linguagem em ondas de sal e amor.
Em cada palavra salgada, o paraíso perdido arrancado do passado: Eles só lêem superfícies
seja maré-moto depois. Se cairmos, nadaremos.
Mar bravio visto amanhã,
onda-projétil
que espuma presentes,
não permita ao passado gerar o futuro
reflita apenas o sol que se pôs amanhã"...

23.8.08

Álbum do deslembrar ( um tempinho de nada):I-Aquela codaque cinza-e-preta que hoje já não é nunca me deixou esquecer...Que o futuro é apenas saudade do que ainda não foi...O mundo é aqui o que se vê de dentrode um carrinho vermelho e branco que não está fora de mimSei por minha avó que na clareza e doçura do possível Maio me faz ser um só:Sol flor boné amorCarinhoCarrinho

II-

A melhor coisa para lembrar é esquecer.
Quando só lembramos, ficam o passado,
O futuro e a gente no meio.
Esquecer é lembrar de atuar no atual.
Ser.
Para que lembrar se posso viver?

III-

Prevendo o por vir, choro pirracento
Uma dorzinha-de-mundo:
Mas o mundinho era pequenino
Coube numa colher. Com ela colhi:
Sofá
Vovó
Cosquinha
Xarope e sorriso

IV-

Um instantâneo é um instante sem antes nem depois. Passa rápido?
Sou eterno num instante

V-

As fotos não sabem: Sou um só. Mas queria ser só um

VI-

Criança, quis ser adulto. Adulto, quis ser criança.
Decidi então ser os dois.
Mas e os dois: O que decidiram?

VII-

Na meninice olhei uma foto que sabia ser de um aniversário.
- Mamãe, quem é o idiota com o dedo no meu bolo?
- Ué; é você!
Hoje pergunto ao espelho quem é o idiota que faz a pergunta.
E o espelho responde ao idiota:
É a pergunta que te faz

VIII-

A luz de uma manhã que houve-mas-não-houve
Ouve minha súplica cósmica:
Hoje ela é

XIX-

Vovô não teve. Vovô não existiu
Por isso lembro tanto dele

X-

Papai não

XI-

Tia Mimi me ensinou a comer alface cenoura e beterraba
Fiquei forte para suportar poemas

XII-

Fotos me lembram de esquecer

XIII-

Hoje brinquei com meus primos. Sinto saudade de hoje


XIV-

Vovó estendeu o sol na varanda
E secou o pingo azul triste do meu olho

XV-

Com o sol na bolsa, fomos ao parque e à praia
Carol peneirou areia e não reteve nenhum grão
Eu peneirei meus dias e só contive um grão-de-hoje:
Não pude conter que ele explodisse agora cedinho
Desde aquela manhã de 1985: cada grão é infinito

XVI-

Fechei sem querer a porta na cara de Carol
Quantas portas fecharam sem querer minha cara?
Quantas caras fecharam sem querer minhas portas

XVII-

Minha infância abre portas que deságuam esquinas

XVIII-

A felicidade é o pertinho dobrando:
Em toda esquina tem uma esquina

XIX-

Em toda esquina que tem esquina também tem você.
Uma esquina é um mundo: eu cheio de curvas

XX-

Tentaram consertar a esquina.
Só se conserta concertando

XXI-

A música deixou aberto meu dia:
Não alcanço as balas de côco quentes na pia
Mas Vovó e Elis salivam meus ouvidos em romaria




Escola-de-vento:

I- ( antes da aula)

Jogo meu peão sonoro que gira desde agora até anteontem de manhãzinha

II-

Levo tempos em meu bolso. Na escola jogo bafo com Jorginho e Fábio: cada bafo é um dia dando piruetas

III-

O dia de hoje caiu ao contrário

IV- ( aula)

Na foto oficial todos os alunos de uniforme; menos eu
E quem disse que o passado não conhece o futuro?

V-

Na alfabetização arrastam caixas pelo corredor
O homem pontual no barulho que sei todo dia
Entrega leite e maçã pros alunos
Meus amigos mordem maças e eu palavrinhas

VI-( saída)

Vovó não chega. Vovó não vem?!
Concentro o mundo então num pirolito

Outro dia qualquer:

VII- ( antes da aula)

Bati no menino que tenho medo. Agora tenho medo de minha coragem

VIII- ( não aula)

Esperamos em estado de carteira a tia chegar
A tia não veio
O quadro-negro continua verde

XIX- ( recreio da não-aula)

Descansamos felizes do que não foi
É preciso então cansar-se
Mas não canso de ser: o pátio e seus cantos
Cada canto, um conto
Na bola sou Zico; Jorge é Bebeto

X- ( saída)

Vovó me buscou e disse: -Amanhã tem greve e depois também: Então voltaremos ontem meu filho

XI-

Em casa de papo-pro-ar foi que vi pela primeira vez
Na janela agora em minha infância
Uma palavra sem roupa!
Desnuda, vi suas consoantes e vogais
E outra palavra entrando no quarto
Com o travessão como mastro:
Mesmo pequenino eu já sabia
Que iam fazer sílaba...
Vi de noite os três reis magos concertando estrelas tocando no menino
E abrindo mar:
Rosa
Manoel
Elomar
Des- pontuação:

Vírgulas são cascas-de-banana: palavras podem escorregar...
Plano Colômbia







" Imponente em seu cavalo, transformando os deuses solares das geladas terras do norte em realmente homens simples na pestilencia e barba-por-fazer, o Guaikurú não sabia o que fazia. Não precisava saber, porque razão serve para explicar e quando há beleza cósmica na guerra, na antropofagia rejeitando covardia, não existe erro e sim dualidades que fazem com que o homem tenha forças para suportar a abóbada-celeste( redonda ou quadrada) nas costas. Duas metades? Dois inteiros. Contradição é coisa de quem quer ser. Aquele que é, sabe-sente que já é tarde para ser cedo, mas ainda não é tarde para ser tarde. Quem está fora inveja o paraíso e extende as mãos esperando pérolas. Aqui dentro os ponteiros gotejam. Lá fora o alarme organiza a fila dos desempregados. Não estou dentro, nem fora. Não estou: sou. A frente, um mundo de morros com verdes colados nas retinas de um povo que não se envergonha das rezas e dos terços, da certeza de quem coloca a vida pra dentro.

Atrás, não se sabe nada das chuvas. Não estamos dentro nem fora. Repito então pela primeira vez o que sempre foi: somos.
O menino que virou árvore


Numa tarde bonita de céu azul esfiapando algodão-doce, o sol preguiçoso mostrava-se só pela metade. Talvez por isso, por não ter tanta luz amarela, é que tenha acontecido aquela coisa meio folha, fruto e tronco que houve nessa noite que de tão cedo era ainda a tarde da manhã...
Manoelzinho era um menino esquisito: gostava de animar coisas que pareciam não ter vida. Se juntava dois gravetos, já eram bonequinhos. Do mesmo jeito era sua amiga-irmãzinha de sempre: Júlia. Sempre soube que as coisas num eram só coisas...

Um dia, ela decidiu se perguntar: - O que é o muro? E foi aí que ela chamou correndo o pequeno Manoel: - Manoelzinho! Manoelzinho! Vem cá! – Que foooi, Júlia? Num vê que tô brincando de ser formiga? – Não, Manoelzinho: isso é sério demais; tem coisa que é mais brincadeira, sabe?? E lá foi Manoelzinho, formiga fininha de barro, ver o que queria sua amiga-irmã. Mas não sem antes reclamar: -Ah, vai amolar o boi!

Chegando perto de Júlia, Manoelzinho olhou ela dizer com a boca: - Estou falando com os ouvidos! – Ué, cume qui pode isso, Manoel quis saber, ansioso que nem gato vendo caixa chegar em casa. –Ah, Manoel...é só escutar com a boca também, ora que pergunta mais bocó!? Manoelzinho achou que Júlia estava doida, ainda mais quando ela colocou mesmo a boca no muro e falou com os cabelos: - Escuta, Manoelzinho: tá escutando? – O que, irmã? O muro está mudo; num tem ninguém falando nada!!! E Júlia, já professorinha das coisas, respondeu: - Pois é, Manoelzinho: e o mais estranho é que está assim a horas...

Foi nesse dia que Manoelzinho entendeu que coisas também são gente e gente também são coisas. E era só pensar que tudo mudava! –Olha um muro brincando, Júlia! E assim eles foram refazendo as coisas dum jeito bem engraçado; - Ih, Manoel, sua tia gordona virou lápis! Ué, mas se ela é gordona, como é lápis? Num era pra ser...hum, deixa eu ver...biscoito fandangos ou bolinha de pingue-pongue? Júlia devolveu logo a bolinha: - Ora, bolas: É que tudo que é também não é. Olha o muro: só é mudo pra quem ouve com os ouvidos. E foi aí que Manoelzinho plantou uma idéia: -Aaahmm, entendi! Então quer dizer que posso ser árvore e essa estorinha terminar verde?
O ano é 2008. O planeta ainda Terra. És o mais bonito dos planetas! Mesmo não conhecendo outros a gente sabe, porque reúnes verdade e mundo em seus pedaços fatigados. A Terra é mãe porque acaricia quem pune: oferece céu, mar, terra boa e frutos pro filho que hoje acha ter um pai mais rico: Sou americano,sou americano! De onde, meu filho??

Até na roça a gente perde a carroça; o sertanejo mastiga palha e o cowboy atira-feio: bang! Mudamos de colonizador tomando anestesia em sala de cinema. SE voc~e quer ser o cowboy, no jogo deles somos o bandido ou no máximo o xerife que toma conta de sacos balofos de grana alheia. Na roça somos a carroça: caminho de poeira que não tem volta, pois o vento apaga pegadas deixadas e os pés criam as novas em cada passo. A estrada não é começo e nem fim: estrada é o meio, o entre que dá-se hoje. Mas p’ra onde?

O diabo agindo potente, engravatadão e ditando leis que ninguém leu, mas segue: Cada um no seu quadrado,não se mova, eu sou a lei; mãos ao alto, isto é um assalto. Que é nós já sabemos: resta saber: O diabo é mocinho e bandido? Enquanto a gente nem culpa mais tem pra ter. O sertão e seus perigos....Deus se vier que venha armado. E bala é só um pedacinhozinho de metal... o diabo de hoje não faz, mas desfaz: O que fazemos juntos, além de pensar que estamos juntos e querer estarmos juntos? O diabo não mede forças; é gastura. Mas Deus sabe esperar; age no denoite. No quase ontem que quando você olha por janela já sabe que será um bonito amanhã. Estejamos com ele. E também conosco...

11.5.08

Ronaldo, Eva e Adão.


Começa nesse fim de semana o Campeonato Brasileiro de 2008. Em centenas de jogos haverá fatos, imparcialidade e objetividade de sobra para jornalistas-bairristas, mesa-redondistas diaraques e intelectuais vindos de tubos de ensaio que pensam no jogo como método alienante. Entre as canetas, ou melhor, talvez debaixo delas, fintados pela surpresa, sem ação com dribles da vida que não imita a arte, mas sim faz do estádio verdadeira mangedoura de fatos, tentaremos de fato abordar despretenciosamente as coisas do futebol. E o futebol que existe nas coisas...

Nesse domingo-dia-das-mães, teremos um Maracanã de portas fechadas recebendo o peso e a tradição de Flamengo e Santos. Estarão por lá entre repórters e dirigentes as áureas de Zico e Pelé, ou estas já foram apagadas pela técnica( ou a falta dela) em fins respectivos dos anos 70 e 80? Comparando com o jogo da reta final do Brasileiro do ano passado, onde a festa da torcida rubro-negra bi-coloriu retinas, o match desta data querida para as mães- que bem pode ser hoje a zaga do Flamengo, após o Maracanazo de semana passada- trata-se de uma autêntica disputa entre Adão e Eva. Como assim? Haveria em campo personagens épicos, dignos de uma tentação diabólica? -Se não fizeres o gol imperdível, te levo pro Real Madrid, diria o demo. -Se num driblar o time adversário todo e voltar depois até o meio-de-campo, substituirás o Ronaldo no Milan, o que até o capeta admite num ser lá tanta honra atualmente..Não. Nada disso. Neca-de-pitibiribas! Até porque o diabo, agora na cheirando a enxofre segunda divisão do futebol carioca, perdeu mais ainda suas forças. O que há de comum então com o casal bíblico é simples, assustador e fatídico: O paraíso vazio...

20.4.08

Textamento

( sobre a textura das coisas)



Quero ter cuidado com as palavras. não o cuidado do medo, mas o cuidado de quem cuida.

Espero um dia- e para esperar, vou vivendo- falar menos de mim.
uma espera por nada, felicidade apenas em si e por si mesma.
Espero deixar por aí, o eu cartesiano, individuo que se nunca é um só, que seja e esteja então...
em tudo.
Espero ser o cão que late, mas não morde

Espero ser a árvore, que purifica o ar sem saber e por não saber

Espero ser brisa que bate igual
a dor, que pulsa e destroi,

mas se espero, ela resignada e cheia de si mesma logo aceita partir

Espero ser o mundo, para não mais saber que sendo eu, apenas eu, sou tão pouco

Entre o tudo e o nada, no meio do turbilhão que emudeceu sua voz, quero perder a minha, para ganhar a de todos.

Enquanto espero, vivo. Isso eu espero...

9.4.08

Sentia e sentia um certo medo. Incerto. Certezas estão até nas dúvidas. Ter certeza é também duvidar. Duvido de coisas pensadas-possíveis e acredito no que escolhi. Sentir. Mas isso, no depois de atravessar o medo. Ponte perigosa que não tem o final? Tem sim. O fim do medo, a pontinha derradeira dele é a alegria.
O tudo contra-dizendo o nada... E a gente lá no meio. Com medo?

Medo é aquilo que nubla nosso olhar para o sentir, para escondê-lo, não de nós, mas do alheio que pode fazer nuvem tornar-se chuva. E esturricar o que foi de véspera plantado...
Mas o sentir, eis que lá está; guardadinho. Colhido e crescido pelo orvalho de questões.
Medo também se contra-diz.

Temi em ameaças quando ela queria dizer algo. Dizia temer o que ia pronunciar, mas queria. A linguagem é a artéria vital do coração. Amor, assim amado no a dois de cada um, existe, como coisa manifesta, é na palavra: pensa-se linguagem. Letrinhas que aproximam o um de si e o si de outro um.

Na palavra, pensada-sentida-dita, eu, eu, eu, somente eu ali, sei que ouvi porque guardei e sei que posso reproduzir a soltura de relógios, travesseiro, corpo e mundo que ontem aprendi. Dizer eu nada disse. Apenas com medo ouvi; com medo de sentir, mas de peito liberto pelo verbo:

Pode alguém ouvir de outros lábios aquilo mesmo que sente? Pode um sentir repetir-se no outro que passa a ser um si mesmo?

Com a leveza de pés descalços na grama fresca, brotaram em meu coração novos dizeres-escutados. E a água-da-palavra regou meu chão, tão já quebrado de securas e simpleszinho: - É que eu amo você.

2.4.08

Teu sorriso reluz sol nascente,
e mesmo depois do poente
ainda é força:
Luazinha sorridente,
pondo-se sozinha no meu travesseiro.
Espero então um dia inteiro
para outro dia chegar e também passar.
Seu cheirinho em pensamento faz me então
desejar:
Tempo, permita logo ao sabado , mesmo mais curto
que meu peito, apenas começar..
Ode a manoel de Barros

I-

Quero um dia esquecer
que gatos, árvores e poetas
sabem muito sobre nada.
Neste dia, onde nada mais
souber- sem a dor cientifica de buscar saber, claro-
É que do nada, tudo saberei
um pouco.
Sabendo-sabido? Não.
Adivinhado.

II-

Sou eu um reticente...
Porque às vezes, não saio
do presente nem para
jogar futebol.
Os esqueceres...
A reticencia de ficar parado
no agora- não do nada- mas do tudo: tudo errado e machucado.
O reticente verdadeiro troca
os três-pontinhos após a
reticência, por três pontos:
Passado
Presente
Futuro.
Reticência; vida que um dia
há-de se fechar
num dia aberto do fim ao começo
rasgando flores no peito.

3.3.08

Lembro bem daquela manhã. Um sabadozinho em que o sol, portando luz incomunmente bela, me acordava cedo. Lia Shakespeare e trazia no peito paixões. Senti ali um dia cujo fim não importava e sim somente a beleza do começo.Chorei então de alegria cega, pois ali, ao despertar, ainda não sabia. E foi quando a voz informática de Bianca deu-me a boa-nova: Cecília!Não entendo o que senti, mas sinto que meu coração entendu liberdades e alegrias. Na rua, chorando correntezas e rios inteiros de felicidade, tive um girassol na mão e lembranças:O choro do papai sem a mamãe.O choro do papai não mais apenas coma mamãe.O primeiro presentinho, dado meio sem querer.Hoje, o sol ainda gira, ou giro eu, não importando tanto ao céu que seja belo, sublime e absurdo, pois agora, toda a lindeza irreal que vi nos ares concentra-se em almazinha e pequenos-grandes-olhos: Cecília.