23.8.08

O menino que virou árvore


Numa tarde bonita de céu azul esfiapando algodão-doce, o sol preguiçoso mostrava-se só pela metade. Talvez por isso, por não ter tanta luz amarela, é que tenha acontecido aquela coisa meio folha, fruto e tronco que houve nessa noite que de tão cedo era ainda a tarde da manhã...
Manoelzinho era um menino esquisito: gostava de animar coisas que pareciam não ter vida. Se juntava dois gravetos, já eram bonequinhos. Do mesmo jeito era sua amiga-irmãzinha de sempre: Júlia. Sempre soube que as coisas num eram só coisas...

Um dia, ela decidiu se perguntar: - O que é o muro? E foi aí que ela chamou correndo o pequeno Manoel: - Manoelzinho! Manoelzinho! Vem cá! – Que foooi, Júlia? Num vê que tô brincando de ser formiga? – Não, Manoelzinho: isso é sério demais; tem coisa que é mais brincadeira, sabe?? E lá foi Manoelzinho, formiga fininha de barro, ver o que queria sua amiga-irmã. Mas não sem antes reclamar: -Ah, vai amolar o boi!

Chegando perto de Júlia, Manoelzinho olhou ela dizer com a boca: - Estou falando com os ouvidos! – Ué, cume qui pode isso, Manoel quis saber, ansioso que nem gato vendo caixa chegar em casa. –Ah, Manoel...é só escutar com a boca também, ora que pergunta mais bocó!? Manoelzinho achou que Júlia estava doida, ainda mais quando ela colocou mesmo a boca no muro e falou com os cabelos: - Escuta, Manoelzinho: tá escutando? – O que, irmã? O muro está mudo; num tem ninguém falando nada!!! E Júlia, já professorinha das coisas, respondeu: - Pois é, Manoelzinho: e o mais estranho é que está assim a horas...

Foi nesse dia que Manoelzinho entendeu que coisas também são gente e gente também são coisas. E era só pensar que tudo mudava! –Olha um muro brincando, Júlia! E assim eles foram refazendo as coisas dum jeito bem engraçado; - Ih, Manoel, sua tia gordona virou lápis! Ué, mas se ela é gordona, como é lápis? Num era pra ser...hum, deixa eu ver...biscoito fandangos ou bolinha de pingue-pongue? Júlia devolveu logo a bolinha: - Ora, bolas: É que tudo que é também não é. Olha o muro: só é mudo pra quem ouve com os ouvidos. E foi aí que Manoelzinho plantou uma idéia: -Aaahmm, entendi! Então quer dizer que posso ser árvore e essa estorinha terminar verde?

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