3.12.07

Todas as piadas são possíveis na trágedia de cada dia. Eu por exemplo me dedico ao exercício vão da poesia. Poesia-política? Revolução pela palavra ou palavra pela Revolução?? A dúvida e a tentação de Paulo, o poeta. Apóstolo, arauto da fé que as vezes é fraca diante do diabo cujas medalhas brilham no Eldorado cuspindo dollars ácidos e bélicos calles a dentro. Fraco o homem e não o Deus. Fé é mais básico que base popular. A base da fé. organiza-se quem acredita. Em político? Vieira-Lewgoy não salvaria nem Niterói! Organiza-se quem luta hoje e agora contra o demônio da mudez: a altivez do indivíduo american way of life, orgulhoso de achar que é um, mas que multiplica-se vitrines shoppings afora. Organiza-se quem tem orgãos: pulmões para berrar em stereo sound nas tão altas e decibeis cifras sonoras que o controle da tv que tudo vê torna-se mudo. Palavra rompante só na consciência, mas junta no abraço fraterno, e em idéias em comum. Organiza-se quem além dos ouvidos tem nos olhos o temor, o temor pela cruz falsa-e-porfírica onde o filho por tempos imemoriais não esteve. Olhos que sabem olhar e dizer que a morte é o atestado da vida: morrer pode ser o ter vivido com dignidade, sem aceitar a injustiça de um-algum-alguém ter mais e achar-se melhor. Morrer pode sim significar: ter vivido!Todas as piadas são possíveis na tragédia de cada dia. Eu, por exemplo, faço elegias pro vento. Transformo amor-abraço-curto-pra-não-sufocar em espera messiânica. Sou egoísta na mesquinharia do peito explodindo porque candidato a mestrando não da-se ao luxo de sair de casa nem pra comprar pão e ver que um líder,político, sindical, ou de bairro representa com possibilidades o povo. Mas não é o povo. O povo anda com fome- quando aguenta andar. E tem pressa: ao invés de orgãos, tem pernas pro tempo voar e a comida chegar pela minha esmola. Mas eu, quase-doutor, não saio de casa. Escrevo coisas secas no computador. Dor.Todas as piadas são possíveis na tragédia de cada dia. E de noite, ainda por cima, me acho com direitos de não conseguir dormir...

2.11.07

Aletria e Hermeneutica

Tristezas e partes
do peito partidas
à parte
quero a alegria;
aletria hermeneutica,
fechada de tão aberta
carta em braile
com certezas cegas
que não faz cosquinha
nos doutores.

Tristezas e partesdo peito partidasà parte,
quero a alegria;
o nascente da manhã
que clareia minha
elegia
amor de amigo e irmão
que tira da sombra
o Platão franciscano
que traz aos pombos
a boa- nova do dia:sorria!
Achamos que rimos
porque esquecemos de
lembrar que no riso
está a graça, divina
que mistura céu
e mundo.

Mas então sorrindo,
sorrio meio sorriso?
Sorriso e meio.

30.10.07

Pensar-Sentir

Pensar; palavra contorcida. O esforço em captar algo que as estrelas teimam em esconder e o ar apenas sugere. O pensar para captar, seguido do sentimento, assim pensado feito consciência; verbo re-torcido. São seis horas na cidade pequena. Cidade que é-mas-não-é. Horas que somadas levam ao céu: Angelus. Após a pausa sacramental, que vai além do ritual romano, chegando na missa dos quilombos, palavra negra, convertida, porém e por-isso rica em diversidades de estórias e tragédias, caminho pela rua estreita. Vou na contra-mão do caminho que sempre faço, talvez para ter mesmo dois pensares; o da palavra contorcida e o pós momento disso, a retorção: distorção. Pois distorçer, não se iluda, é sempre um certo contar. Cada um conta de seu canto. Um conto. É isso que trago; palavra des-torcida. Primeiro feita difícil pra depois ter a face exposta. Ou seria primeiro a enganação do óbvio, para depois a coisa ser em verdade mais de uma? Contorço depois des-torço; com calma melhor então melhor explico...

Língua. Minha língua não cabe em minha boca. Poderia falar sobre a dinâmica de uma grande cidade. Seus processos, suas loucuras. Edgard Allan Poe dos dias de agora, estéril em meio à multidão. Mas...não. Não quero aprender a mecânica que faz a roda girar, nem a soltura de parafusos; quero o que vem antes do homem-teórico que fala sobre tudo que vem antes no tempo, mas depois dele saber disso. Falar COM é o que se há por tentar. Tocar a campainha do pensar e do agir. Quem fala: é o homem, ou a linguagem? Minha língua; já não cabe em minha boca. Pois a fala é a escuta de quem fala COM. Nestas linhas, falo com o que antecede o sobre; falo tendo comigo a essência do agir. Hoje, o essencial tocou meus atos através de um olhar: Eu vi, o menino. E tenho certeza. O que são certezas senão ser, essencialmente com acerto? Não tenho dúvidas; o menino está logo ali.

Quase não o vejo. Quase passo por ele com a indiferença de quem gravita entre ter dó ou ignorar; melhor não pensar? O menino; estava ali, fato consumado para mim. Por um instante quase não enxergo. Ou a partir daquele instante não enxergo? O fato consumou-se consumindo-me. No antes-momento daquilo, o dito cujo garoto murmurou algo, talvez tão alto que foi inaudível. O senhor apressado buzinando e nem a dona-de-casa, do alto do cosmos de seu lar sabem, mas estão cheias do tudo as ausências. Pode uma vozinha fio de som cegar alguém? Heim? Quer dizer então que a voz mudou os olhos...O menino. Coisa tão absurda que repito esta novidade até agora. Pediu moedas para comprar o que faltava: já tinha o pão, faltava um litro de leite. Teria naquele instante fome? Desrespeito o garoto ao parar para questionar isso junto a quem lê estas linhas,enquanto ele pode estar faminto? Quase um parágrafo de perguntas. Mas questões não tem respostas. Tem é a pergunta que se faz e refaz.

Pergunta é um tipo de caminho entre noites que se faz. Por que? Não me pergunte. Só sei seguir; rastrear o pensamento até que derrape e sinta. Fome? A fome é o que não passa. O que termina são certas vontades de comer. O menino me cegou de fome. De vida. De pensar-sentir. E tudo por um pedido que quase não ouvi. Fome violenta que irrompe corpo adentro. Não o espírito da barriga. Mas a vontade de comer vida. Tenho paixões? Arroubos de cólera? A pergunta se pergunta sozinha? Fome de amor; amor é mesmo no a dois de cada um. Porque o amor indivíduo em si que sai por aí pedindo para ser amor, não é. Amor que quer amar? Se não é o amar ao outro, pode ser amar só, a si? No raso das coisas, no esperar o sinal verde para fazer a travessia da avenida, sim. Mas o chegar ao outro lado, o saber onde vai é via de mão-dupla. Amor que vai e volta ainda ao ir: gostar é uma forma de morrer depois: no pôr-do-sol dos dias. Ser um a mais para o outro; ter dois tempos que movem-se dentro de si. Isso aprendi com o menino. Amor. Amores; amigo, irmão, mulher esperada. fome de vida e de amor. Aprendi que sua fome ele nem sabe de onde veio, mas estava ali, na justa hora de me cegar e fazer pensar um sentimento. Senti-me vazio. Ôco das coisas. Porque o menino sintetiza a miséria humana. Turbilhão estéril que gira em bolsos capitalistas quaisquer que sejam por aí, sem perder a inocência de quem pede porque acredita que vai receber. Esperar de alguém num é lá um amar- a possibilidade e os homens?

Pensar, palavra contorcida após torcer. Pão e leite que conheço muito bem desde os copos em menino justo agora anoiteceram meu dia. Moeda alguma pude ali naquele instante escorregadio oferecer. O menino, infelizmente, só pensei nele foi depois.

17.10.07

Peguei a sentir. Logo agora que queria apenas a calma matinal com cheiro de pão saindo do forno, peguei a sentir. Turbilhão louco, roleta que gira tão rápido e nem dá pra ver bem o que escolher, em que apostar, onde vai parar. Coisas advindas. Adivinho sem pensar muito aquilo que sinto. Sentir não é escolher. Sentir é pegar. E peguei a sentir. O mergulho na angústia que margeia a alegria louca e (i)rreal, o olhar para cada coisa com olhos transplantados. Tenho novos olhos, ou novo coração?Novos dias.

14.10.07

Alvorada


Um acerto de contas com o relógio. Foi isso que tive. Mas se ele não girou, tenho. Antes de ter, tinha já tudo para ser mangueirense: a proximidade espacial, pela escola quase ao lado, sem contar a rubronegriçe quase similar. Os quases e o ser. Lá estou eu. Ou melhor, aqui estou: pois se meu tempo é quando, se os ponteiros pulsam no peito fazendo o de-fora ser ôco, lá ainda estou: aqui. Estação Primeira de Mangueira; parada obrigatória para sentir...

Impressiona a palavra reificada pelo oral. Sambas em disputas como crinaças pedindo pra nascer. O poder da fala; podem as músicas mesmo ainda em dúvida se são, serão ou tentarão novamente, chegar em minutos na boca das gentes? Poucos lêem, muitos ouvem, todos cantam. Mas a disputa tem limite-ilimitado. Há sempre algoque dá sentido à coisa: ritual coletivo, espécie de missa do morro. O tema é o frevo, mas o que dá unidade, fazendo com que todos disputem a mesma coisa é como um credo com três partes:- nariz, óculos e...Cartola: vida que criou arte. " Cartola não existiu: foi um sonho que a gente teve", disse Nelson Sargento. Surto coletivo? catarse?

A mímesis dos gregos e o exemplo do que sere ou não ser. O samba alucinado, papel prateado que cai do alto e te atinge em cheio se desistir de erguer as mãos ao nada musical, volume máximo da surdez; foi ele, papel, que me fez sentir-pensar: No prelúdio de um dia picado com flor e lodo, alvorada de gente na rua meio-bamba, sorri e canta o velho Angenor. O samba e a vida. Quem imita quem? Se Cartola não existiu, discussão também não há: lá, para quem não sente, ou aqui, para mim, Cartola ainda é. Eis a Questão...

8.10.07

" Contra-Bando"

América de Colombo:
calombo dourado
sulco encravado
nas deias del rei.
A prata de Potosí
brilha mas não sabe
que ouvi e senti;

Rio, de janeiro,
correnteza de
pau-e-pedra,
centro lateral,
litoral, do meio
de um mundo:
Bolívar nas Gerais?

América de prata;
calombo de Colombo
sangue
sonho
trono
contrabando de idéias
contra o bando
que não sente.

7.10.07

Sei que nada será como antes amanhã; pq o pé na estrada faz ver o caminho e não a chegada; começo de um ontem por vir. Sei que nada será como antes amanhã porque depois de amanhã vou morrer. Mas viver não mata; o que mata são mortes mal-morridas..

1.10.07

Malandragem


Sou malandro,
de pés ligeiros,
sou bamba.
Mas na vida,
poética
dolorida
onde a gente samba,
sei que dos trabalhos do amor
não se corre,
porque viver é muito sério;
um belo dia se morre...
A flor e o lodo

Do lodo surge a flor
Da tristeza o amor;
Elegia transmutada
Em alvorada.

Dizem que no morro
O samba é um lamento.
Escuto então atento
A voz que vem lá de cima
Dizer;

A fineza do poeta
Faz do alto e do asfalto
Um mesmo amanhecer.

28.9.07

Bonecas Russas ( forma e conteúdo)


Bonecas
Russas;
uma menor
dentro de outra maior:
como saber quem será a última?

20.9.07

Pão-de-queijo, Roland Barthes, cachaça-de-alambique e Walter Benjamin.Dizem que conselho, se fosse bom vendiam. Talvez estes não entendam, não percebam que na etapa atual de desenvolvimento- arredondando muito- do capitalismo cá ocidental, estão em fragmentos tempo e experiência. Daí então o individualismo que faz um bem-intencionado conselho ser algo tão enxerido, externo á experiência alheia. Toda vez que folheio Grande Sertão: Veredas, sinto que o conselho, não mais possível para Benjamin pela individualidade das experiências, fruto dum tempo partido, desenvolve-se enquanto conselho não externo à experiência, mas sim para dentro. Isso possivelmente porque a linguagem de Guimarães Rosa não tem como ponto limítrofe problemas, coisas circunstanciais que são temporais e oxidantes. Como num temporal, a água da chuva passa, seca; a do rio, essa continua.
Rosa toca em Questões, maiúsculas sim, o que faz com que a linguagem seja Poética: a essência do agir contemplada; comtempl-ação. Então, ele, o narrador, o que age na narrativa, me transmite no romance rosiano experiências, processo similar ao conselho, por dentro; pela linguagem. Para Barthes, não se fala fora da linguagem. Entretanto, existe uma trapaça salutar: a Literatura, que consiste num " externo à linguagem" onde ocorre o que o intelectual francês chama de " Grau Zero da escrita": São todos os recursos, possibilidades da escrita.Turbilhão, força motriz, água da palavra; as vezes cristalina, as vezes turva, dependendo de quem beba. Ou seja, a Literatura é originária " fora da linguagem", mas isto é uma trapaça. Por que? Simples. A origem "fora" é ápenas para jogar-nos para "dentro"...Então, de certa maneira, pode-se dizer que pela linguagem rosiana são transmitidas experiências. A obra de arte, mesmo sem sua unicidade, sua função de culto, mesmo sem aura, ainda é capaz de transmitir. Basta tocar sua essência. Basta permitir que tal essencia lhe tome o pensar e o sentir, com dúvida e sabor; o beijo do dia e o tapa da noite: Quando na linguagem de uma obra de arte- existem livros que são- encontra-se as Questões, as que nos batem e beijam; Homem e Travessia.
L.L
19-09-07

19.9.07

Time operário


A técnica substitui a aura;
Sai tradição,
Entra consumação.
A técnica comanda o treino tático:
Tácitos jogadores, achando que vão
Marcar Zidane.
Mas a liberdade de jogar
Não vale pra ganhar.
A técnica substitui a arte;
Faz parte, diz o galã
Global
Que tem pilha duracel,
Fruto de incursão anal.
A técnica altera até
O esquema do carnaval
O jurado jura que não
Mas dá zero pra quem
Diz que foi só
Suor e emoção.
A técnica substitui
A técnica;
Morre o homem,
-Corta, cena 2;
E continuam
A produção....
19-09-07

A paixão pela palavra. Do verbo, nasceu e verteu o homem. pensar é um entender que sente. Mais palavras e mais pensamentos? Atitude e sentimento...latino, brasileiro, pensando pra dentro: mais palavra e mais sentimento: pensamento. Nas minas, de Potosí e das Gerais, estão o amigo, fortúito, atento: sentimento futuro dum passado presente: querente, do beijo do dia e do tapa da noite. Com o açoite de não mais palavras, fica, apenas, o velho-novo-latino sentimento.

18.9.07

Minas Gerais

Minas:
Confim mais profundoda palavra.
Presença,p'ra dentro.
Do Brasil?

Confim:
Confuso;
É latino?
Africano?Ou quem sabeUrano...

Pode ser que lá,
um dia,
eu fique encantado.
E no último instante,
o-de- a terra,
na pá
no peito,
nele, assim,
meu olhar
ainda-já quase verde
possa arar o
tempo-espaço
e fazer a travessia;

Ponta-de-areia
Caminho natural
da vida pr'a morte
e da morte pr'a vida.

Minas;
Coração-do-mundo
Cais;
tudo que
sempre quis:
Uma ponte para cada palavra;
Minas
Gerais.
Conversa com Luizinho


De um dia simples
Tirei uma lição;
No presente está
O futuro da nação.

De manhã, fui á igreja;
Sou americano e mineiro,
O dia inteiro.

Depois, o show no parque.
Sou americano e mineiro,
O dia inteiro.

E foi quando ela chegou;
Sorriso reluzindo dó-ré-mi-fá
Que assombra mais que um raio
De sol,
Ou mesmo o sol inteiro.
Sou americano e mineiro,
O dia inteiro.

Acontece que nasci em Niterói.
Sou brasileiro...

17.9.07

17-10-07



Portuguesa
com ares de
Norueguesa:
beleza traçada
com destreza.
Transformaste o
sempre igual
da aula e da rima
na alegria-triste
que com nada combina
do apenas olhar.

13.9.07

Homenagem dum certo " filósofo"...rsrsr

Lusitano. O nome denuncia; exilado em mundos que não mais anunciam a volta triunfante do rei cristão. Mas és forte, e organiza um exército vão, com pacotes de poesias debaixo do braço. Leonardo, nessas terras de gingas indecentes, aponta pra Minas como se diz "avante". E corre medroso, quixote às avessas, abrindo caminhos pra gente passar.
PROMOÇÃO:
Na compra de dois pacotes de medo,
juntando mais três nãos,
ganhe ou jogue fora um coração.
Amor é mesmo no a dois de cada um. Porque o amor indivíduo em si, que sai por aí pedindo para ser amor, não é. Amor que quer ser amor? Se não é então o amar ao outro, pode ser amar só, a si? No raso das coisas, no esperar o sinal verde para fazer a travessia da avenida, sim. Mas o chegar ao outro lado, o saber onde vai é via de mão dupla. Amor que vai e volta ainda ao ir: gostar é uma forma de morrer depois: no por-do-sol dos dias. Viver é belo e perigoso. Ser um a mais para o outro? Ter dois tempos que movem-se dentro de si.

10.9.07

Carrossel do sertão 10/09/07



Salve, deusa moderna, pós-moderna,
que perpassa tempos por fazer-se atemporal.
Bem-vinda ao Éden tardio.
Logo aqui? Nem deu no jornal...

Salve a laranja do Kubrick
Salve Holanda de 74, que até hoje
ninguém sabe como é que é:
Salve o Kaiser Beckembauer,
Zagallo, Geisel, as criancinhas e Pelé.

Salve a ponte Rio-Niterói,
a poça e o poço; bala-perdida
da Black 'n Decker que explodiu
meu vinil do Paco de Lucia.

Salve a Coluna Prestes; lombalgia
que faz com que minha coluna
não mais preste.

Felipe Camarão dando um Tostão
na coxa do Cryff;
Vovó comprô um apê na Avenida Sete
e as patricinhas desfilam na rua da moda;
Sete de Setembro alucinante que fura
meus olhos com tetas arrogantes.

Iohan Cryff foi campeão? Acho que não.
Moderna é a " mudernagem" castanha
dos meus olhos, que prefere o sertão
ao invés de holandês ou alemão;
Bebeto-e-romário alheia ao Bergkamp,
Branco-latino que solta bomba e chora,
Zico-Sócrates-cerezo-Falcão, que perde
da Itália, mas ganha da rudeza do primo
latino bem mais durão...
" leilão do canal 9"

A tv reproduz o quadro.
O quadro reproduz o artista.
O artista reproduz a tv:
Poesia e vasectomia.

9.9.07

Janela, Noite e rua



Noite

Escada colorida
medo e açoite
Que suspendem
A palavra.
Teu rosto em pedaços
Traços do que ainda
Pode ser.

Rua

E a boca tua;
Um samba tímido
E a verdade
Nua e crua.

Janela e noite

A víbora do medo em minhas veias
Seu veneno despraziu
E você quase partiu,
Eurídice descida ao
Hades
Mas há-de haver jeito
Para que o Quixote medroso,
Com seu pacote de poemas,
Dê adeus à sua elegia:
Timidez- a contradição
Que disse aos meus olhos
O caminho de suas mãos.

Janela, noite e rua:

Guarda-chuva colhendo sois
Pela cidade;
Felicidade.
Rio, 02/10/06

Máscara



Qual seria o limite entre
agonia e êxtase?
Quanto de elegia, de dor
pode ser sentido no amor?

É carnaval, tempo de ser
aquilo que sempre se acha
que nunca somos.

E quando do mergulho à fantasia
todos saem, com seus traços iluminados
pela luz negra do dia,
herméticos
exatos
e transmutados de alegria,
percebo que estão
sem dúvida alguma mascarados.

Máscara. Eis a persona-romana.
Escondes um amor, ilusão passageira
que finca raizes na fumaça
da quarta-feira.
Se tocas os lábios de alguém
não é tua boca que beija
o beijo beijado? Errado.
Ponho aqui então transcrita
a farsa do beijo mascarado:

Se cubro meu rosto, indisposto
a se mostrar, não sou eu quem
comete o crime do beijo roubado.

Se uma mão me agride a face e
ofereço-lhe a outra metade
não é em meu rosto que o
desgosto alheio bate.

Sentir dor e menos amor:
É esta a receita
do mascarado fingidor.
Niterói, 28 de Julho de 2007.



Três vezes você me negou
mas o galo, não cantou.
Três vezes o tempo passou
e você me negou.
Três vezes, o tempo negou
e você passou;
Assim acabou
aquilo que não começou.

6.9.07

Bar das mocinhas


Ontem me ocorreu algo curioso. Eis que recebo convite dum velho amigo para aquela gelada, regada a muito papo-musical; em especial a velha- bossa-nova. O Lugar escolhido foi um bar até bacana, situado entre outros dois ou três; espécie de " beco das garrafas niteroiense". Reúne os melhores filhos da cidade. E as melhores também...

Notei que algo ali estava estranho logo ao pedir a primeira cerva: os garçons- adolescentes com gel no cabelo que pareciam menos que iam trabalhar do que ir prum bar( e na verdade estavam num, mas não como clientes!) devam atenção exacerbada pras mocinhas serelepes. Enquanto os pobres dos bossanovistas tinham que segurar pelo braço o garçon, num quase implorar e ver o cabra depositar na mesa a cerveja e dois copos que, por molhados, estavam grudados, pras mocinhas eram distribuidas beijocas, além de acenderem cigarros na boca(!)e também correr solicitamente ao menor piscar-de-olhos.

Ciúme das mocinhas? De jeito-e-nem-maneira. O que está em jogo aqui é algo temerário, uma inversão de extremos, talvez; Se antes o bar era território essencialmente masculino, de uns tempos pra cá, vem sendo cada vez mais um espaço democrático. Sim, as mocinhas tem vez lá: não precisam mais correr o risco de ser mal faladas pelo simples ato vital de pedir uma mesa! Entretanto, parece que os mocinhos com gel que frequentam ( ops, trabalham) no lugar bacana estão revolucionando a história botequística: bar onde se trata mal homem.

Imagine o senhor leitor tendo que usar uma das famosas peruca's Lady para conseguir com mais rapidez uma bela porção de batata frita, ou no caso dum jovem- como os mocinhos- valer-se daquele blâsh que sua respeitável avó utiliza em suas escassas saídas de casa? Pois é... E o pior é que os mocinhos parecem estar lançando ( ou imitando) moda...

No futebol, a coisa também também está nesse pé; nós, homo sapiens, bebedores de cerveja e adoradores da deusa esférica, também estamos sendo maltratados ( veja só) nos estádios!! Sem bar nem futebol??

Me aventurei num medonho Flamengo x Náutico, onde 50 mil pessoas que talvez estivessem ali mais por terem sido maltratados em seus respectivos bares -porque pelo jogo em si, cidadão das coisas, definitivamente não era- uma pobrecoitadiçe sem fim: apenas 2 bilheterias abertas...

Conclusão; os mocinhos que dirigem o futebol estão indo mais longe. Tratam mal homens, mulheres e crianças. Sem contar no vovô que quer dividir momentos com o netinho. E olha que os moços não ganham nenhuma gorjeta não! Também já nem tem cabelo pra gel. Mas estão, indubitavelmente, formando um núcleo de maldades no bar bacana perto lá de casa.

Esses dias fiquei sabendo que na Inglaterra, clubes até da 5 divisão cobram pra lançar a scinzas dos torcedores em seus gramados. Já pensou se o povo aqui resolve juntar os trocados da gorjeta do boteco pra lançar ao vento as cinzas dos dirigentes do futebol carioca? Que não se esqueçam dos mocinhos...

4.9.07

Poema dum velho amigo: Lori Paz, ou: O Vina da martins Torres...


Cor


Lendo poemas...
Tantos me trazem tua lembrança
Teu sorriso
Ao ler palavras que trago em papel comum
Sorriso tímido, lateral
Que cresce e se torna suspiro
Guarda teus segredos
No interior do sorriso, do suspiro
Da gargalhada espontânea
Quando não pode, até
Da serenidade do olhar
Da fronte singular
Pura na essência
No momento imóvel
Cristalizado na minha lembrança
Fotografado
Que me tira da treva
Na hora atribulada
Cantarolando aquela música
Ou sussurrando aquelas palavras
Porque o que sinto tem cor
E tem cheiro, até
Mas não tem tamanho
Nem verbo
Que possa ser dito
E entendido
Nem posterior relato
Na vida de homem brotado dessa terra
E que nela há de repousar...

Não penso ser feliz
Se não tiver, a teu lado,
Hora pra lembrar
Cheiro pra sentir
Toque, calor
Nem há dia
De alvorada e crepúsculo
Que me distraio
Da tua lembrança
Do teu carinho
Da tua beleza.
Pétala- poética

Amor; após a Quarta essência da palavra,

A pétala é o que restou da flor.


Sintética, a pétala-poética,

Fração-fragmento de um sentimento,

Mostra o quão singela é a fragrância da dor.


Se de uma flor uma pétala é fragmento,

De uma vida, um dia é momento;


Longe do todo, água que rega os jardins do existir,

Vivo o agora:


Aprisionando-o entre os dedos para que

não escape nem um milésimo qualquer.

Bem- me - quer, mal- me - quer na roseira

Ao qual chamamos coração.
Pessoa ( ou pessoas)

Meu coração partiu-se como um vazo vazio.
Minh’alma vai excessivamente pro mar.
O vazo, então vazio, caiu n’água,
Fez-se mais pedaços do que havia louça.
O vazo, vazio, fez me heterônimos,
Multiplicou e dividiu,
Trouxe consigo seu espelho;
Agora contemplo minha imagem,
Vazia
Oferecida como consolo
Pela própria
Poesia.

Afobado e afogado,
Tento em vão juntar
Meus pedaços.

Com os cacos perdidos no mar,
Vejo em minh’alma
As velas vãs passar
E concluo então partido;
Cada vela
Passa num sentido.

1.9.07

Ode à Cordisburgo.


Quero a Cordisburgo
O difuso
Aquilo que está em toda parte
Sertão-mundo,
Mudo, destarte.

Eu quero, meu pai
A Cordisburgo;
Mineiridão
Mineiridade
Minha primeira idade, após
Na vida, ter já nela quase
Metade:

Longe do mar,
Sem mar.
Perto da vida,
A morte.
Diante da essência
Do agir
A secura e a água
Da palavra;
Verdade, travessia do Ser: tão...
Conjunto: Chaplin Barroco



Chaplin Barroco


Uma agulha de vudú
Espeta em inglês
O peito do velho Chaplin.
Mas ele sorri...


E após aberta a grande
Torneira fabril,
Moderna, eterna
E inútil,
Lágrimas correram
Pelo cano enferrujado.


Então Chaplin deduz:
Vou p’ra Minas, Senhor,
Quero a cruz.

Pregado, dor barroca
Em cada traço,
Um cartaz encima do palhaço diz:
Este morreu de paixão
Triste
Feliz.
Elegia do desespero( Despedida)
Quero um desespero. Não aquele que enlouquece, nem este que põe o coração na beira da prateleira, prestesa estar caído e partido.Quero o des-esperar. Soluço que alivia após um golebem forte, tomado de supetão; Água que é sempre nova, e nunca repousa entre os dedos; elegia. Caso prefira, dor-de-mundo-mesmo. Por isso, quero antes um desespero. Desesperar teu olhar. Desesperar tuas mãos. Desesperar do caminho surdo e vazio que faço em procissão, sozinho em meio à multidão para chegar onde você quase nunca está. Quase nunca. Porque caminhei transeúnte pelo centro da cidade em pleno fim de tarde, como quem volta da escuridão, do vazio, rumo ao que pode ser mas no fim das contas nunca é; sim, quero, com medo, assumo, derreter o gelo de tuas mãos, mas não é o gelo que me esfria e sim a possibilidade fatídica de atravessar as esquinas tortas do temor e não encontrá-la do outro lado. Avenida da vida cujo sinal anda fechado. Por isso, quero calma e desespero: Com a doçura de quem aprendeu que o futuro já chegou no exato instante em que queremos ter um outro presente,digo adeus; E desespero-te.
Por que o manto é sagrado?
E no princípio era o caos. Mas no antes de ser, o preto tudo já era.Certo mestre disse que o Fla-Flu adiantou-se ao princípio. Mas para tê-lo, era preciso jogadores e times. Como o caos branco e calmo certamente não pode ser, quero que seja vermelho. E também preto. Minhas origens. Como não nascer rubro-negro em anos onde havia dias com horas em que minutos transformam-se num grito uníssono, fração de segundo que leva aos céus um anel com nome de pássaro? Zico! Diziam na voz, ainda dizem no coração os que professam a mesma religião clubística.E o caos ultrapasou o começo. E o começo, achando-se senhor do tempo, sobreviveu para levar um drible do Júnior, uma cabeçada do Nunes, ou mesmo um elástico do Romário. Porém, cansado de lutar contra seu próprio destino, o começo começou a ter time. A torcer; A Nação é apenas o começo da torcida. Mas...camisa ganha mesmo jogo? Torcida? Mandinga? Seleções inteiras de porquês fazem gol? E explicação, ganha título? Contudo, vamos lá;Antes do caos, Flamengo. Junto do antes, o manto. Sagrado? Sim, pois existe antes do que foi criado. Então, se Deus criou com o verbo o que existe e, sempre foi o mesmo Deus, junto com o que nunca de um começo precisou, seguramente também foi ele quem primeiro disse:"Uma vez Flamengo, sempre Flamengo".

5.7.07

Ligação

Pensei,
Esqueci.
Bebi,
Lembrei:

Liguei.
Ouvi,
Falei,
Sai.

Olhei,
Beijei,
Escrevi,
Chorei;

Escutei:
-Não foi possível completar
sua chamada com o número discado.
Clube da esquina

Clube da esquina
Transversal á palavra
Que está na contramão
da razão;
Cais que margeia
o sentimento,
Gosto vidro e corte
Que transpassa
A cabeça ,americana
E esfumaçada;
Repleta de poeira e chão
Coração de espera
Guardado na algibeira
Nessa estrada mineira;
Metade-inteira,
Trem-azul
Da América do Sul.
Primeira Gare

A noite;

Quanto medo
Do escuro
No vazio
Onde mora
A desvida.

O quarto:

Estrelas
No céu
Do teto
Carroussel
Cintilante
Girando tempos
Que correm
Para trás.

Vovó:

Mosquitos
Cortinado
Xarope
Sonhe com os anjinhos
Um beijo que ainda é
E uma oração
Ao pé-da-cama;
O mundo costurado
No cobertorzinho.

A vida;

Saudade.

7.6.07

“Morreu um amor de verdade”


No momento em que meu olhar
Notou os olhos teus
Pensei que daria adeus
à solidão

Foi tudo tão Sublime,
Perfeito
Idéias combinando,
Palavras se completando

Mas o tempo, amigo
Fiel da verdade,
Revelou-me que havia
nos atos uma dose
de inverdade.

Mal sabia que por trás
de cada sorriso, daquele olhar,
mareado, da doçura que antecede
a descompostura, havia um coração
arruinado.

Mas hoje sei que na vida, de tudo,
gostar é apenas uma parte.
Reluto, me insulto, e tento negar,
contudo tenho que aceitar
que morreu mais um amor de verdade...

O que é melhor, defender-se ou enfrentar?
Tentei com todas as forças fazer você lutar.

Acontece que tudo no mundo
tem seu tempo, seu lugar.
Por isso sei, que aqui,
devo chorar...