20.4.08

Textamento

( sobre a textura das coisas)



Quero ter cuidado com as palavras. não o cuidado do medo, mas o cuidado de quem cuida.

Espero um dia- e para esperar, vou vivendo- falar menos de mim.
uma espera por nada, felicidade apenas em si e por si mesma.
Espero deixar por aí, o eu cartesiano, individuo que se nunca é um só, que seja e esteja então...
em tudo.
Espero ser o cão que late, mas não morde

Espero ser a árvore, que purifica o ar sem saber e por não saber

Espero ser brisa que bate igual
a dor, que pulsa e destroi,

mas se espero, ela resignada e cheia de si mesma logo aceita partir

Espero ser o mundo, para não mais saber que sendo eu, apenas eu, sou tão pouco

Entre o tudo e o nada, no meio do turbilhão que emudeceu sua voz, quero perder a minha, para ganhar a de todos.

Enquanto espero, vivo. Isso eu espero...

9.4.08

Sentia e sentia um certo medo. Incerto. Certezas estão até nas dúvidas. Ter certeza é também duvidar. Duvido de coisas pensadas-possíveis e acredito no que escolhi. Sentir. Mas isso, no depois de atravessar o medo. Ponte perigosa que não tem o final? Tem sim. O fim do medo, a pontinha derradeira dele é a alegria.
O tudo contra-dizendo o nada... E a gente lá no meio. Com medo?

Medo é aquilo que nubla nosso olhar para o sentir, para escondê-lo, não de nós, mas do alheio que pode fazer nuvem tornar-se chuva. E esturricar o que foi de véspera plantado...
Mas o sentir, eis que lá está; guardadinho. Colhido e crescido pelo orvalho de questões.
Medo também se contra-diz.

Temi em ameaças quando ela queria dizer algo. Dizia temer o que ia pronunciar, mas queria. A linguagem é a artéria vital do coração. Amor, assim amado no a dois de cada um, existe, como coisa manifesta, é na palavra: pensa-se linguagem. Letrinhas que aproximam o um de si e o si de outro um.

Na palavra, pensada-sentida-dita, eu, eu, eu, somente eu ali, sei que ouvi porque guardei e sei que posso reproduzir a soltura de relógios, travesseiro, corpo e mundo que ontem aprendi. Dizer eu nada disse. Apenas com medo ouvi; com medo de sentir, mas de peito liberto pelo verbo:

Pode alguém ouvir de outros lábios aquilo mesmo que sente? Pode um sentir repetir-se no outro que passa a ser um si mesmo?

Com a leveza de pés descalços na grama fresca, brotaram em meu coração novos dizeres-escutados. E a água-da-palavra regou meu chão, tão já quebrado de securas e simpleszinho: - É que eu amo você.

2.4.08

Teu sorriso reluz sol nascente,
e mesmo depois do poente
ainda é força:
Luazinha sorridente,
pondo-se sozinha no meu travesseiro.
Espero então um dia inteiro
para outro dia chegar e também passar.
Seu cheirinho em pensamento faz me então
desejar:
Tempo, permita logo ao sabado , mesmo mais curto
que meu peito, apenas começar..
Ode a manoel de Barros

I-

Quero um dia esquecer
que gatos, árvores e poetas
sabem muito sobre nada.
Neste dia, onde nada mais
souber- sem a dor cientifica de buscar saber, claro-
É que do nada, tudo saberei
um pouco.
Sabendo-sabido? Não.
Adivinhado.

II-

Sou eu um reticente...
Porque às vezes, não saio
do presente nem para
jogar futebol.
Os esqueceres...
A reticencia de ficar parado
no agora- não do nada- mas do tudo: tudo errado e machucado.
O reticente verdadeiro troca
os três-pontinhos após a
reticência, por três pontos:
Passado
Presente
Futuro.
Reticência; vida que um dia
há-de se fechar
num dia aberto do fim ao começo
rasgando flores no peito.