14.10.07

Alvorada


Um acerto de contas com o relógio. Foi isso que tive. Mas se ele não girou, tenho. Antes de ter, tinha já tudo para ser mangueirense: a proximidade espacial, pela escola quase ao lado, sem contar a rubronegriçe quase similar. Os quases e o ser. Lá estou eu. Ou melhor, aqui estou: pois se meu tempo é quando, se os ponteiros pulsam no peito fazendo o de-fora ser ôco, lá ainda estou: aqui. Estação Primeira de Mangueira; parada obrigatória para sentir...

Impressiona a palavra reificada pelo oral. Sambas em disputas como crinaças pedindo pra nascer. O poder da fala; podem as músicas mesmo ainda em dúvida se são, serão ou tentarão novamente, chegar em minutos na boca das gentes? Poucos lêem, muitos ouvem, todos cantam. Mas a disputa tem limite-ilimitado. Há sempre algoque dá sentido à coisa: ritual coletivo, espécie de missa do morro. O tema é o frevo, mas o que dá unidade, fazendo com que todos disputem a mesma coisa é como um credo com três partes:- nariz, óculos e...Cartola: vida que criou arte. " Cartola não existiu: foi um sonho que a gente teve", disse Nelson Sargento. Surto coletivo? catarse?

A mímesis dos gregos e o exemplo do que sere ou não ser. O samba alucinado, papel prateado que cai do alto e te atinge em cheio se desistir de erguer as mãos ao nada musical, volume máximo da surdez; foi ele, papel, que me fez sentir-pensar: No prelúdio de um dia picado com flor e lodo, alvorada de gente na rua meio-bamba, sorri e canta o velho Angenor. O samba e a vida. Quem imita quem? Se Cartola não existiu, discussão também não há: lá, para quem não sente, ou aqui, para mim, Cartola ainda é. Eis a Questão...

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